Há quem questione a comemoração do dia da Mulher no mês de Março.

Eu mesma já fiz este questionamento antes.

Minha avó cuidava da casa. Criou a minha mãe para casar, cuidar da casa e dos filhos.
Cuidar da casa e dos filhos não era uma escolha.

Minha mãe quis estudar e fazer uma faculdade, mas naquela época mulher não estudava e não construía uma carreira profissional. Estudar pertencia exclusivamente ao universo masculino.
Em um passado não tão distante, mulher não votava e portanto não participava das decisões politicas de sua cidade, estado e país. Não expressava opinião em público, não questionava, apenas aceitava.
Um belo dia, um daqueles dias que ficam para a história, uma mulher resolveu que estava cansada de tudo isto, rasgou o sutiã e partiu para o mundo em busca do seu lugar. 
Não um lugar de igualdade com o homem, pois acredito que mulher e homem são diferentes e devem desempenhar papéis diferentes na sociedade.

Mas um lugar em que ela pudesse escolher o que quer ser, um lugar onde ela tivesse voz.

Ser mulher. Ser mãe. Ser Pediatra.

Esta sou eu, Juliana.

Mas a Juliana é também dona de casa, professora, filha, irmã e esposa.

Meus dias são permeados por aulas a preparar, choro de filho que não quer fazer lição de casa ou tomar banho.
O que vai ter no almoço hoje?
Mãe, onde está aquela camiseta que eu adoro e não encontro?

 

Meus dias são recheados de beijos e palavras carinhosas dos meus dois meninos lindos.
São completos com recadinhos de agradecimentos e reconhecimento de mães queridas dos meus pequenos pacientes.
São dias agitados com discussões de casos clínicos com os meus alunos no Hospital de Clínicas.
Nós mulheres pensamos e fazemos muitas coisas ao mesmo tempo. Uma capacidade que nos permite gerenciar casa, trabalho, filhos. Há quem diga que isto é um problema. Há quem não entenda esta nossa capacidade de se tornar um polvo com vários braços capazes de abraçar o mundo.

Meu filho mais velho um dia me disse que todos nós temos dentro da nossa cabeça um armário com gavetas onde guardamos os nossos pensamentos e idéias.
Ah… Quantas gavetas pudemos criar, cheias de idéias e planos.
Ser mulher. Ser mãe. Ser Pediatra.
Ser Alice no País das Maravilhas.
Um mundo só nosso, onde dividirmos planos, conquistas, sugestões.
Um mundo para dar uma dica, pedir uma dica.
Receber uma palavra de carinho em um dia onde as coisas não foram assim as mil maravilhas.
Ao longo dos tempos, conquistamos o direito de ser quem queremos ser.

Eu, Juliana, escolhi o que queria ser.

Eu pude ter voz.

E por isto, em homenagem àquela mulher que lá atrás rasgou o sutiã, desbravou caminhos, enfrentou barreiras e lutou para que hoje nós possamos escolher o nosso destino e termos as nossas gavetas cheias de idéias, é que devemos sim comemorar o dia da Mulher.

 

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