Afinal de contas, quanto vale o seu trabalho?
“Valor?”
Já contei essa palavra inúmeras vezes no Clube em postagens que não deixam claro o preço de um produto ou serviço.
Esse é um direito de quem publica – e uma bronca de quem lê. Mas há também inúmeras publicações que pedem indicação de produtos “que não custem um rim” ou “os olhos da cara” (alerta: esse tipo de expressão está proibida no Clube, viu? Dá uma lida nas regras…).
Estive pensando sobre preço e valor. Principalmente por que são coisas absolutamente distintas.
Na última semana, o Festival de Curitiba trouxe mais de 1500 apresentações de teatro, dança, circo e música para a capital paranaense.
Além dos espetáculos da Mostra Oficial, as produções do fringe tomaram as ruas, espaços culturais e muitos outros locais de Curitiba e região. Entre eles, cerca de 600 apresentações não tinham o valor do ingresso definido: foram no sistema “pague o quanto vale”. Ou seja: o espectador escolhia, ao final da peça, o quanto queria pagar.
A medida é muito parecida com o que os artistas faziam no início da história do teatro, com as trupes que “passavam o chapéu”. É também uma forma adotada pela organização do evento para garantir que a arte chegue a todos – mesmo àqueles que não têm condições de pagar o valor do ingresso.
Mas existem outras iniciativas parecidas com essa que abrem margem para um sistema de vendas “ousado”.
O casal Luiya e Ste apostam nesse formato para arrecadar o dinheiro que precisam para estudar no Canadá. Foi daí que nasceu a Doce Intercâmbio. Eles vendem brigadeiros tradicionais e de leite ninho, além de beijinhos de coco em kits com três docinhos cuidadosamente embalados.
O preço? É o cliente quem decide. Eles só deixam claro o quanto gastam para a produção: em média R$ 2,95 por kit.
Em geral, as pessoas oferecem um valor maior do que o custo e já teve gente que deu R$ 50 pelo trio, demonstrando muito mais a vontade de ajudar do que de saciar a vontade de doce.
Com a coragem de não precificar o produto, eles esperam arrecadar R$ 175 mil até o fim do ano que vem.
Em Fazenda Rio Grande, o pessoal do Centro Pop (que atende pessoas em situação de rua) também apostou nesse sistema para colocar à venda as peças artesanais produzidas por quem passa por lá.
São caixinhas coloridas, quadros de diferentes tamanhos e itens de decoração que nascem das oficinas oferecidas pelo serviço a quem não tem onde morar e passa o dia no local até conseguir encaminhamento de trabalho e moradia.
O serviço é público e inclui banho e alimentação. As peças produzidas são vendidas para angariar recursos para os próprios artistas: com o valor arrecadado eles podem comprar itens de higiene pessoal, por exemplo. Mas, acima de tudo, conseguem visualizar uma nova possibilidade de vida, uma forma de reconstruir o próprio caminho. Sem contar que aprendem um novo ofício – e podem até usar essa habilidade para seguir em frente.
Puxei esses três exemplos para tentar mostrar a grande diferença que existe entre o preço e o valor das coisas.
Você consegue imaginar quanto vale o espetáculo de uma trupe que vem de outro estado para participar, pela primeira vez, do maior festival de teatro do país?
Ou então, como precificar o esforço de um casal que faz doces para realizar o sonho de fazer um mestrado?
Imagine então a responsabilidade de colocar preço em itens que representam um recomeço, uma mudança de vida para quem já não tem nada – nem mesmo onde morar.
Da mesma forma, o trabalho de cada empreendedor tem um custo e um valor.
O custo de produção, das horas dedicadas a aprender e colocar em prática. Da matéria-prima e também da luz, água e demais recursos gastos para produzir.
Mas o valor, que se mede pela mudança que aquele item gera, é incalculável. O valor de um produto que bombou e pagou a mensalidade da faculdade da filha, é incalculável. O valor do serviço que mantém a família de pé após uma separação é incalculável. Não há rim nem olhos da cara que paguem.
Talvez nosso orçamento também não se encaixe em um determinado momento, mas cada um é quem sabe do valor que seu empreendimento tem.
Como cliente, vale aquela “choradinha” por um desconto, mas nunca sem esquecer do quanto vale cada item colocado à venda.
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