A boadrasta
Sou apaixonada por histórias: contos, fábulas e lendas! Considero-os de uma sabedoria, leveza e profundidade ímpares. Surpreende-me a forma delicada com que ensinam e com que tratam de temas dóceis e indóceis da natureza humana.
As histórias povoaram a minha infância e certamente deram asas à minha imaginação! Com mais de 40 anos como leitora, posso afirmar que essas asas se fortaleceram e me levaram para o voo da escrita! Não sei se uma coisa foi consequência da outra, mas desconfio que sim… Na casa onde habita um grande leitor mora também um potencial escritor…
Dani criança
Quando eu era pequena, acreditava piamente em cada palavrinha daqueles livros! Cresci “sabendo” no meu coração que devia ser salva por um príncipe de cavalo-branco, que um dia eu acordaria linda e glamourosa graças a magia da minha fada madrinha, que eu deveria tomar cuidado com as madrastas (outras mulheres alheias ao círculo familiar) porque elas eram bruxas disfarçadas e que sempre haveria um final feliz! Uma verdadeira Alice! (risos)
O tempo, uma boa dose de leitura e muito esforço de autodesenvolvimento desconstruíram estes mitos em mim! (Ufa!)
Primeiro, descobri que as versões dos contos que li são versões das versões originais, perdendo ao longo das adaptações muito da sua essência e beleza. Depois, entendi que não sou princesa e nem tampouco preciso de príncipe. Sou dona do meu castelo e domo meus próprios dragões. Tornei-me minha própria fada madrinha, fui à luta para emagrecer e me tornar uma mulher linda à la Dani. Saquei que as mulheres são minhas companheiras de estrada, minhas irmãs de alma e não oponentes maléficas representadas por madrastas, bruxas ou vilãs. Embora ainda acredite em finais felizes, sigo menos Alice! Sei que há maldade no mundo, mas ela não tem gênero. É um fator humano!
Talvez, por tudo isso, sinto-me tentada a escrever novas versões das fábulas tradicionais! Uma forma de ajudar as muitas danis de 10 anos que estão crescendo por este mundo afora!
Quer ver como seria?
A minha versão de Branca de Neve
Era uma vez um rei viúvo que vivia num reino distante, com a sua filha que se chamava Branca de Neve. Como se sentia só, voltou a casar, achando que também seria bom para a sua filha ter uma nova mãe. A nova rainha era uma mulher muito inteligente. Logo após o casamento ele faleceu e deixou a nova esposa um pouco temerosa de cuidar da linda Branca de Neve.
Sabe como é né? Tinha aquele falatório que o rei já conhecia ela antes da viuvez, que ela se casou por dinheiro e que era muito nova para ser mãe de uma princesa… Ela se sentia meio insegura!
A nova rainha tinha uma “espelha” mágica, ao qual perguntava, todos os dias:
– Espelha, espelha minha, será que eu vou dar conta de ser uma boa madrasta?
E a espelha respondia:
– Sim minha rainha, serás a melhor madrasta de todas!
Uma manhã, a rainha voltou a perguntar à espelha e esta respondeu:
– Acho que não rainha! Fica aqui no quarto morrendo de medo do julgamento do reino inteiro!
Enraivecida, a rainha ficou de bico o dia inteiro com a espelha!
Na manhã seguinte, voltou a perguntar:
– Espelha, espelha minha, haverá alguém no reino melhor que eu para educar a pequena Branca de Neve?
Aí a espelha botou pra quebrar:
– Para com esse mi-mi-mi! Olha e veja quem você é! Uma mulher inteligente, linda, poderosa e empoderada! Pelamor mulher! Você é dona do seu nariz, sabe seu lugar ao sol e tem um reino inteiro aos seus pés! Medo! É isso mesmo?
A rainha riu! Depois gargalhou! Nada como ter uma espelha amiga pra “bater a real” pra gente!
– Verdade, espelha sua loka! Eu pirei agora! O que eu faço?
A espelha mais calma, sugeriu:
– Amiga, você tem uma menina-moça na sua vida! Você nunca substituirá a mãe, mas pode ser uma boadrasta! As mádrastas existem, mas são uma minoria! São a exceção! Não tenha medo! Não fuja! Cuide dela, oriente-a com todo amor do mundo! Abra seu coração e conte que também chorou pela espinha no rosto e pelo espinho que um bobo da corte fincou no seu coração. Ampare-a e prepare-a para ser uma grande rainha!
As palavras da espelha tocaram profundamente o coração da rainha!
Ela ordenou a um dos seus servos que levasse a ela e Branca de Neve até a floresta para que a menina conhecesse o seu povo e sua terra.
A rainha lhe ensinou a arte da batalha e a magia dos chás. Ensinou o canto de chamado dos pássaros, falou sobre os segredos que o vento conta, como conversar com as montanhas e os animais.
E dia a dia uma relação de amor e respeito foi nascendo entre elas.
Branca Neve cresceu em graça e beleza! A boadrasta permitiu que ela vivesse a vida de acordo com seu coração! Teve sete relacionamentos antes de encontrar o amor de sua vida que foram carinhosamente apelidados de: Feliz, Atchim, Dunga, Mestre, Soneca, Dengoso e Zangado!
Quando Branca de Neve estava apta a assumir as funções reais, a rainha boadrasta fez uma grande festa real. Fez um discurso emocionante, falando sobre seu orgulho daquela que a vida lhe presenteará como filha do coração!
Branca de Neve abraçou a boadrasta e agradeceu por todo o seu amor e cuidados! Agradeceu por tê-la feito uma mulher capaz de se defender das maçãs envenenadas do vida!
A nova rainha assumiu o reino e a boadrasta partiu para uma linda viagem de férias!
A história dessas mulheres ganhou o mundo e por isso as boasdrastas são amadas e respeitadas por seu amor puro e dedicação integral!
Por muitos séculos deixamos que escrevessem sobre nós. Uma visão parcial, deturpada e pequena.
Muitas histórias distantes da nossa essência de afeto, nutrição, acolhida, integração e amor.
É hora de deixar as mulheres falarem pelas mulheres.
Beijos,
Dani
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