Em campanha, Hering quer acabar com o termo “tomara que caia”
A varejista lança o movimento “Liberdade é básico”com o objetivo de, por exemplo, combater termos sexistas na moda
Você já parou para pensar que existe uma conotação sexista por trás do termo “tomara que caia”? Afinal, precisa mesmo cair? Aproveitando o timing do Dia Internacional da Mulher, a marca Hering anunciou uma série de ações sobre empoderamento feminino e vai abolir a expressão problemática de toda sua comunicação. No que depender do movimento lançado pela etiqueta brasileira, as peças nesse estilo passarão a se chamar “blusa sem alça”.
Com a campanha #BlusaSemAlca nas redes sociais, a Hering quer levantar um debate não só sobre o sexismo estrutural na moda, mas em toda a sociedade. Por meio da mudança na própria comunicação, a marca espera levar essa reflexão a outras empresas e personalidades.
Olha que interessante este texto da Renata Domingues Balbino Munhoz Soares explicando mais sobre o termo que se tornou tão controverso:
“O termo “tomara que caia” surgiu em 1946 como uma variação de roupas íntimas, como os corpetes sem alças. Rita Hayworth, atriz inesquecível de Hollywood, no filme Gilda, foi a primeira a usar um modelo “tomara que caia”, criado por Jean Louis. A década de 1950, que exaltava a perfeição feminina e o luxo, apostava nos tailleurs formais com luvas, para o dia. Mas, para a noite, nos tubinhos tomara que caia.
Já dizia Iris Apfel, ícone da moda aos 90 anos, “le azione sono più eloquenti delle parole”, ou seja, as ações são mais eloquentes dos que as palavras. O que transforma a sociedade é a ação. Sendo assim, a utilização do termo “tomara que caia”, a meu ver, não expressa um sexismo, ou discriminação baseada no gênero ou sexo de uma pessoa. Mais valem as ações, ou o comportamento das mulheres hoje, que representam a moda, ou a expressão do que acontece no mundo. A origem do termo é popular e próxima do significado que os portugueses deram ao modelo “cai, cai”, por ser de fácil deslizamento pelo corpo.
A substituição pelo termo “blusa sem alça” ou “vestido sem alça” pode acontecer. A linguagem tem origem, mas também adaptação. Vivemos num mundo de exaltação à igualdade, com razão. A troca do nome por “blusa de alça” pode ser uma campanha para conscientização de comportamento, direitos, luta por uma causa. É válido. Se, por exemplo, tal modelo fosse usado em um enredo discriminatório ou sexista, deveria sim ser banido. Caso contrário, para descrever um modelo criado por um estilista e sua tradição no mundo da moda, talvez não. Pensando dessa forma, ainda há outras expressões que poderiam ser banidas da moda, dependendo do contexto de sua utilização. Conhecemos o maiô “fio dental” por ser mais fino do que o tradicional, por exemplo.
A busca das mulheres por liberdade e o movimento feminista tem impactado a moda positivamente, visto que ela tem a função de conscientização e representa o que se vê nas calçadas da vida. Os “fashion shows” têm sido a prova disso — a presença cada vez maior de diversas culturas e povos na passarela e nas coleções demonstra a importância crescente de respeito e exaltação de grupos vulneráveis.”
Renata Domingues Balbino Munhoz Soares é professora e coordenadora do curso de Pós-Graduação em Direito e Moda da Universidade Presbiteriana Mackenzie.
Exagero da mídia ou necessário aos novos tempos? Qual a sua opinião sobre a nova campanha?