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Entrelinhas de Mulher

Presentópolis


O texto de hoje faz parte do meu livro “Amiga, coloque a calcinha para dentro da calça”, uma coletânea dos meus melhores contos e crônicas! 

Essa semana, vi tanta correria em torno da Black Friday e o início daquele desespero de compras de Natal que resolvi compartilhar esta história que amei escrever, porque resgata a verdadeira essência dos presentes. Resgata o que, de fato e direito, devemos primar na vida daqueles que amamos! Espero que você curta!

 

Presentópolis

Era uma vez um reino, em terras distantes, governado por um rei muito jovem. A despeito de sua idade era um maravilhoso líder – nascera com o dom de governar. Era justo, sábio e muito curioso. Seu povo o amava genuinamente, e ele de tudo fazia para vê-los felizes.
O reino era dividido em duas grandes áreas: Caixas Grandes e Pequenos Mimos. Uma estava localizada bem ao norte enquanto a outra estava bem ao sul. Uma mais urbana e acelerada, outra era mais campestre e sossegada. Um fato muito peculiar de Presentópolis era que cada casa dispunha de um medidor de felicidade. Estes aparelhinhos ultramodernos mediam a felicidade da população, e os dados eram transmitidos em tempo real para o palácio.
O Rei Sophus exigia que uma equipe de assessores entregasse relatórios diários dos índices de felicidades (IF) dos súditos. O IF era um indicador que ele considerava na elaboração de seus projetos de melhoria do reino e para definições de ações futuras. Porém, há algum tempo, algo o intrigava… Pequenos Mimos sempre apresentava IF muito superior em relação à Caixas Grandes…
Ele se reunia com os assessores e debruçava-se sobre as planilhas, relatórios e pesquisas. Por mais que todos se esforçassem em compreender os índices, não havia um motivo concreto para a diferença. Ano a ano, Sophus tentava proporcionar as mesmas condições e recursos para ambas as localidades, respeitando a cultura local. Apesar das regiões irmãs usufruírem dos mesmos avanços em termos de saúde, educação, transporte, remuneração, o IF sempre era vertiginosamente menor em Caixas Grandes.
Na última reunião de avaliação, Sophus tomou uma decisão que surpreendeu a todos. Ele resolveu ir, pessoalmente, investigar o que propiciava aqueles resultados. Os assessores reais foram contra. Afinal, como um rei abandonaria a sede do governo para viver entre o povo?
Nada, nem ninguém, o demoveu. Comunicou a sua esposa que viveria um tempo em cada local, de modo anônimo, buscando por aquela resposta que não permitia que a paz encontrasse morada em seu coração.
E assim foi feito.
Dias depois, já estava instalado em Caixas Grandes. Não pode deixar de sentir certo orgulho por aquela cidade próspera, bem estruturada e bela. Ele se sentou em uma praça ultramoderna e se pôs a observar os transeuntes. Logo avistou uma família voltando para casa. Uma criança pulou do carro quando a porta se abriu, correndo em direção ao porta-malas. Uma caixa gigante estava ali guardada. Eram tantos presentes que os pacotes quase caíam para fora da caixa, Sophus sorriu ao ver toda aquela agitação. Também observou que o IF da casa subiu consideravelmente. Fez suas anotações e seguiu observando. O fenômeno se repetiu outras vezes, em outras casas. Ele ficou satisfeito em ver como as crianças eram bem tratadas e como ganhavam caixas grandes de seus pais!
Dias depois, um fato curioso chamou sua atenção: naquelas mesmas casas que presenciara o aumento de IF, o medidor acusava um declínio de valores. Pensou: “bingo! São estes medidores que estão com problema! Decifrei a charada!”. Imediatamente comunicou-se com a sede do reino e ordenou uma calibragem nos medidores, manutenção nas redes de envio e recepção de dados. Porém, nada foi encontrado de errado.


Ainda confuso com aquela descoberta que não fazia nenhum sentido para ele, voltou à praça. E ainda sem compreender, várias vezes presenciou os índices de felicidade subirem ao chegarem as caixas de presentes, brinquedos, eletrodomésticos, celulares, móveis, para depois acompanhar o declínio dos indicadores, aparentemente sem motivo algum.
O rei sentiu compaixão por seu povo: tão organizado, tão comprometido, tão trabalhador! Os pais saíam cedo de casa e só voltavam à noite, buscando as melhores condições de vida aos seus filhos. Buscavam condições financeiras para propiciarem as melhores e maiores caixas para que seus filhos fossem felizes. Mesmo desanimado, resolveu concluir a tarefa proposta e seguiu para Pequenos Mimos. Após algumas horas de viagem, estava hospedado em singela pousada, próxima a uma praça cercada de moradias pequenas e aconchegantes. Ainda taciturno com as dúvidas acerca do sucesso da tarefa que desejava concluir, viu um acontecimento que começou a clarear suas ideias.
Um pequeno carro estacionou em uma das casas. O veículo nem havia sido desligado quando um menino saiu porta afora, gritando: “paiiiiiiiiiiiiiii!!! Você já chegou do trabalho? “ O pai desceu do carro, anunciando: “vim mais cedo pra te fazer uma surpresa, filho! Bora andar de bike?”. E sob os olhos pasmos de Sophus, o medidor de IF subiuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuu muitooooooooooo!


Do outro lado da praça, uma senhora saiu de sua casa carregando um prato, coberto com alvo pano branco. Dirigindo-se a casa da vizinha, tocou a campainha e entregou o prato. Conversaram, riram. Depois de um tempo, abraçaram-se e ele, maravilhado, viu o medidor subir em ambas as residências.
E não foram poucas as vezes que Sophus viu o IF daquele povo subir: quando amigos chegavam para jantar, quando o carteiro entregou uma carta, quando a primeira flor brotou no jardim, quando as crianças brincavam na areia, quando a banda desfilou na rua, no campeonato de pipa, nos picnics dos parques, no jogo de bola na quadra, quando os filhos levavam os netos para visitarem os avôs…
E, com lágrimas nos olhos, profundamente agradecido, compreendeu… Levantou-se, andou até encontrar uma floricultura. Escolheu o mais lindo buquê e solicitou que o enviassem a esposa. E célere, tratou resolver as pendências para poder voltar para casa. Afinal, agora não tinha mais tempo para perder! Descobrira que a felicidade não vem em caixas grandes. A alegria genuína e permanente nasce do tempo que passamos com quem amamos e dos pequenos mimos que a vida nos propicia.
Seguiu rumo ao lar imaginando como contaria sobre este segredo da vida aos moradores de Caixas Grandes! Sentia que deveria ser algo acessível e inesquecível!
E foi assim que nasceu em seu coração a ideia de escrever um conto para gente grande! Uma história cheia de afeto e valor!

Fim? Não! Apenas cenas do próximo capítulo, porque a vida… continua.

Sigo contigo no amor!

Dani

 

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