Os dois restaurantes
Marta e Mara eram irmãs e desde cedo manifestaram o dom da culinária. Adoravam brincar de casinha e das panelinhas de plástico às panelas de ferro foi um pulo!
Elas pareciam ter nascido com um “chip” de chef implantado na mente. Bastava olhar uma receita que o prato saia perfeito: gosto delicioso e bela aparência.
Talvez por este dom, sempre sonharam em abrir um restaurante como sócias.
O sonho se realizou parcialmente.
Embora ambas fossem extremamente parecidas nas habilidades culinárias eram inversamente opostas no jeito de ser e viver.
Marta era impositiva e direta. Obstinada e teimosa. Egoísta e egocêntrica. Seu apelido era Dona Mandoninha.
Mara era doce e tranquila. Obediente e servil. Esforça-se por ser gentil e agradar a todos ao seu redor. Era chamada carinhosamente de Dona Agradinho.
A separação
Mandoninha e Agradinho fizeram cursos de aperfeiçoamento, formações para serem boas administradoras, trabalharam em algumas casas conceituadas de sua cidade e, finalmente, sentiam-se prontas para abrir seu tão sonhado restaurante.
A primeira briga foi sobre o nicho. Mandoninha queria servir unicamente comida italiana enquanto Agradinho entendia ser necessário um cardápio internacional que pudesse abranger todos os gostos.
Depois elas discutiram sobre público-alvo, localização, valores, orientações aos empregados e nome do estabelecimento até que perceberam que seria impossível a sociedade.
Separaram-se.
Os dois restaurantes
Mandoninha abriu a cantina “Io Dona” e Agradinho o restaurante “A teu gosto”.
A cantina era sofisticada, só atendia mediante reserva e era extremamente fiel ao cardápio.
Certo dia um cliente solicitou que se trocasse o queijo cheddar por muçarela em um dos pratos. Mandoninha se recusou! Disse que era absurdo alterar uma receita premiada só para fins de atendimento de paladar “semi-refinado”.
Outro cliente quis misturar refrigerante ao vinho. Ela, horrorizada pelo “crime”, sugeriu que o homem buscasse um lugar com menos refinamento.
A ordem era expressa: nenhuma alteração era permitida. Nenhuma regra de etiqueta era quebrada. Não se permitia “conversa fiada” com cliente. O profissionalismo era extremo.
Sua máxima era: aqui mando eu!
O restaurante de Agradinho era simples e buscava permitir que os clientes se sentissem absolutamente em casa, permitindo inclusive sugestões aos cardápios da semana.
Se o cliente queria modificar o risoto de frango para risoto camarão, podia. Se quisesse levar seu vinho de casa, podia. Se gostava de andar com seu pet, podia entrar no restaurante. Se curtia fumar, Agradinho dava um jeitinho.
A ordem era expressa: o cliente podia tudo! Tudo para fidelizar o cliente. O cliente devia se sentir em casa! Os atendentes deviam puxar papo, contar piadas especialmente com clientes solitários.
Sua máxima era: aqui mandam eles!
Quem teve mais sucesso?
As pessoas que conheciam a dupla, faziam as suas apostas! Uns imaginavam que o requinte e assertividade de Mandoninha seriam os componentes necessários para o sucesso da irmã mais velha. Outros, entendiam que a gentileza e a preocupação com o bem-estar do cliente favoreceriam sobremaneira a doce Agradinho, a caçulinha.
E todos foram surpreendidos por um terceiro restaurante que, com estilo e bom atendimento levou às irmãs ao fracasso e insucesso.
No restaurante da Paula, Bem Estarmos, o cardápio já era preparado com as personalizações possíveis, o vinho poderia ser levado mediante pagamento de rolha e os atendentes eram cordiais e discretos.
Paula era o meio termo entre as duas.
Sua máxima era: Nós vamos conviver em harmonia!
Paula tinha a receita do sucesso: o equilíbrio!
Esse pequeno conto nos ajuda a refletir sobre dois comportamentos extremos do ser humano!
Enquanto umas pessoas são absolutamente radicais, não se preocupam em serem gentis e empáticas, não escutam opinião de ninguém e valorizam sua postura de rigidez, outras querem agradar a todo custo, perdendo-se entre concessões e um universo de particularidades!
O ditado da vovó ainda é válido: nem tanto ao céu, nem tanto ao mar!
Entendo que o equilíbrio é respeitar o próprio coração e o coração daqueles que a vida nos traz para companhia!
E no meu mundo ideal há o equilíbrio entre os mundos do “eu” e “você”: há espaço para o “nós”!
Não adianta vivermos, única e exclusivamente de acordo com nossos próprios pontos de vistas, sem nos preocuparmos em entender e acolher aqueles que nos cercam, nem tampouco abrir mão de quem somos para fazer os demais felizes!
Vale lembrar que a vida tem que ser uma via de mão dupla com uma troca harmoniosa! E claro, saber que o direito do outro termina o onde começa o seu!
Sigo contigo no amor!
Dani