O diagnóstico de autismo: do luto à redescoberta
Receber o diagnóstico de que seu filho possui o Transtorno do Espectro Autista (TEA) pode deixar você e a sua família sem chão. Ainda que exista uma série de definições e explicações científicas que ajudam a compreender este momento, essa sensação de que seu mundo caiu é a que talvez melhor defina a fase da descoberta do autismo – afinal, com toda a excitação que envolve o nascimento de um novo membro da família, é natural que todos depositem uma série de expectativas quanto ao desenvolvimento da criança.
De acordo com a psicóloga Suzane Löhr, essa sensação que acompanha o diagnóstico costuma ser chamada de “o luto da descoberta”. “Neste momento, os familiares se deparam com a frustração dos sonhos tecidos para os filhos, aquelas justificativas que criavam para os comportamentos indicativos de TEA que vinham percebendo nos filhos não atendem mais ao que a realidade lhes apresenta. Precisam lidar com o fato de que seus filhos tem TEA”.
Dessa forma, muitas emoções são desencadeadas e precisam ser melhor compreendidas pelos próprios familiares.“A primeira delas envolve o luto pela perda de uma idealização da criança, necessária à abertura de espaço para a construção de uma relação real com a criança, apoiada em suas potencialidades e limites, viabilizando a descoberta de novos caminhos na interação”.
Nessa fase, os pais e demais familiares se deparam com um grande ponto de interrogação com relação a quase tudo que diz respeito àquela criança. Tudo muda. Então, por onde começar?
As dúvidas são infinitas: Pessoas com TEA podem superar o quadro e com estimulação e
atendimento adequados deixar de ter TEA? Existem vários graus de TEA? Por que meu filho tem TEA? O que leva a este quadro? Meu filho vai poder ter uma vida normal como outras pessoas algum dia (se realizar profissionalmente, casar…)? Será que sou boa mãe/ pai, já que meu filho parece me rejeitar?
Cada reação, uma ação
Todo mundo reage da mesma forma quando recebe o diagnóstico do Transtorno do Espectro Autista? Na verdade, cada pessoa é única, com sua construção pessoal, sua história, suas próprias experiências e aprendizagem. Algumas pessoas levarão mais tempo para compreender este momento e o que ele significa, outras serão mais proativas e logo buscarão soluções.
A grande dica é respeitar seu tempo de reação, lembrando sempre que, assim como na
vida de uma criança típica, cada dia que passa é uma oportunidade de melhor direcionar a criança com TEA.
“À medida que o tempo do estabelecimento do diagnóstico vai se distanciando, o luto vai dando lugar à construção de alternativas. Os pais de crianças com TEA encontram apoio de outros pais que também têm filhos com TEA, o conhecimento de casos de pessoas com TEA bem sucedidos na vida traz esperança, o olhar para as conquistas da criança traz alegria e aceitação do diagnóstico, abrindo assim espaço para a construção de uma nova forma de relacionamento, respeitando as necessidades e limites apresentados pela criança”, explica Dra. Suzane.
E, assim como os pais reagem de formas diferentes, as crianças também são afetadas por esse momento de maneiras que variam. A criança pequena não tem noção do que significa ter TEA.
Porém, quando são mais velhas, começam a perceber algumas dificuldades que não identificam em outras crianças. “Um menino de 12 anos perguntou ao pai por que incomodava tanto a ele olhar nos olhos das outras pessoas. Outro adolescente se sentia incomodado com a falta de entonação na sua fala. Dizia que tinha um problema de fala que não conseguia falar como as outras pessoas. Estes são alguns momentos em que as crianças se deparam com suas limitações e precisam então administrá-las”, esclarece. No entanto, para a criança isso pode acontecer gradualmente ao longo da infância.
A receita da superação: concentre-se no renascimento, não no luto
Outra observação importante que a psicóloga Suzane Löhr faz com relação ao momento da descoberta do TEA, é que, por vezes, o diagnóstico gera comportamentos de atribuição e culpa entre os pais, que tentam encontrar a razão pela qual a criança possa ter TEA, seja analisando os antecedentes familiares maternos e paternos, seja buscando explicações relativas a cuidados que poderiam ter sido tomados na gestação, etc.
Essa busca, segundo a psicóloga, só gera sofrimento e afasta os pais em um momento em que a união do casal é um forte apoio para o desenvolvimento da criança. Este pode ser muito maior “se os pais conseguem neste momento se concentrar no que podem fazer pela criança, buscando instrumentalizar-se para melhor participar e estimular o desenvolvimento de seu filho com TEA, se conseguem dar atenção também aos pontos positivos, percebendo as habilidades que a criança apresenta e que vem desenvolvendo, e principalmente, se conseguem olhar a criança como um todo, respeitando as diferenças individuais, tentando identificar onde seu filho necessita de apoio para evoluir e onde precisa ser respeitado em função do seu jeito de ser.”
A família inteira pode embarcar nessa mesma linha de comportamento com relação ao
diagnóstico.
Deixe de lado suas próprias expectativas e idealizações, e busque conhecer aquela criança e quem ela é. Isso torna tudo muito mais fácil.
Algumas atitudes, conforme aponta a doutora Suzane, é entender que cada criança é única e que o TEA pode interferir em algumas habilidades e aquisições, mas que seu filho vai se
desenvolver, vai fazer muitas coisas. “Devemos viver cada dia como único, valorizar as conquistas e ter as dificuldades como desafios a serem trabalhados, cada qual a seu tempo. Procurar viver o presente em vez de ficar o tempo todo focado no que será a vida futura do filho”, sugere.
Em resumo, o que a gente quer dizer pra você com tudo isso, é o seguinte:
– Receber o diagnóstico do seu filho dentro do TEA não é fácil. Se você está se sentindo triste e frustrado por isso, saiba que isso é natural e você não está só;
– Outros membros da família também podem estar se sentindo assim, como avós e irmãos. Busquem apoiar uns aos outros por meio de muito diálogo;
– Viva seu momento de luto, mas lembre-se de que, como qualquer criança típica, seu filho com TEA precisa de apoio, carinho e estimulação para se desenvolver. Se está difícil para você,
imagine para ele! Busque formas de agir em busca de melhorar toda essa condição.– Concentre-se no renascimento e não no luto. Sabe todas aquelas coisas um pouco exóticas que seu filho tinha antes do diagnóstico? Agora você sabe o que é! Não lamente pelo que poderia ter sido e sim invista pelo que será. Toda criança, com TEA ou não, é um tesouro a ser descoberto.
Leia mais – http://www.clubedaalice.com.br/vamos-falar-de-autismo/