fbpx
Coisas de Alice

Grisalhas Assumidas!


Assumir o gris – por onde comecei?

Cheguei aos 35 anos, bem casada, bem empregada, morando num belo apartamento, mas bastante insatisfeita com a minha aparência.

Não só pelos quilos que precisava eliminar, mas porque eu não reconhecia mais aquele rosto que eu via no espelho.

Eram pelo menos uns cinco anos daquele castanho médio 4.0 de farmácia, que nos meus cabelos chegavam quase ao preto. Um sacrifício interminável de retoques de raiz quinzenalmente, porque aquela tiara branca surgia quase que da noite para o dia.

Não que eu não gostasse de pintar o cabelo, eu adorava, comecei cedo, com uns 14 ou 15 anos, fui loura, ruiva, castanha e tudo o que me permitia. Mas depois dos 20 anos aquilo virou uma obrigação.

O ponto de virada da chave na minha cabeça foi em uma madrugada em que eu estava escovando o cabelo por volta das 3h, depois de ter retocado para uma reunião, agendada de última hora para o dia seguinte às 7:30 da manhã na matriz da empresa.

Isso foi o fim pra mim, eu não ia dormir por causa do meu cabelo, ia chegar na reunião um bagaço, mas com o cabelo em dia. Foi nesse momento que eu cogitei pela primeira vez assumir a cor natural, grisalho!

A genética me presenteou com um farto platinado desde novinha, e lá no início dos anos 2000 era impensável assumir um cabelo branco sequer, ainda mais com 20 e poucos anos.

Grupo Facebook: Grisalhas Assumidas em Transição

Aos 35, a vontade de ser mãe já rondava os meu dias, mas o que eu iria fazer com o meu cabelo? Grávida não usa coloração. Mas como vou fazer? Vou usar peruca? Vou viver de chapéu? Já sei, não vou ter filhos, pronto resolvido!

Eu fui amadurecendo as duas idéias juntas, o cabelo e a gravidez.

Comecei a pesquisar referências grisalhas na internet, e quase não se via, não tinham fotos, depoimentos, motivações, nada. Eu já estava resolvida internamente, só faltava coragem e alguém pra conversar. 

Foi nesse momento que criei um grupo no Facebook, começaram a aparecer mulheres e mais mulheres que estavam na mesma situação que eu, e juntas, fomos dando apoio umas às outras, dividindo todas as dores e as delícias da transição.

Pensei em platinar, assim o louro iria mesclar com os brancos e a diferença seria tão sutil, que nem eu mesma iria perceber.

Doce ilusão, platinei e meu cabelo além de virar uma palha ficou com a cor da água da salsicha.

Engravidei aos 36 e não passei mais tinta no meu cabelo. Ouvi calada cada palpite não solicitado. Passei por tantos momentos constrangedores que nem consigo enumerar.

Aos quase 38, consegui cortar o restinho de tinta desbotada, foram quase 2 anos de transição, somadas à gravidez e ao puerpério, ouvindo gracinhas e aturando os mais diversos comentários descabidos.

Entrei 2018 plena, assumida, orgulhosa, feliz e mais rica, pois economizei um bom dinheiro com essa transição.

Além de ter deixado pra trás uma rotina exaustiva, rios de dinheiro a cada visita ao cabeleireiro, deixei lá também minha insegurança, minha preocupação com a opinião alheia, me tornei forte e confiante.

Estou feliz com meu reflexo no espelho e hoje recebo elogios até daquela pessoas que foram as primeiras a me criticar.

A vida é curta, e é uma só. Nosso corpo é o que temos de mais sagrado e vamos viver com ele até o fim. 

A gente não merece sofrer pra agradar quem quer que seja.

Arrisque, não passe vontade, você não vai se arrepender. E se arrepender, é só pintar outra vez!

Abraços, Daniela.