Comfort food – a culinária do afeto e das boas memórias
Cresci em um lar de mulheres que imprimiram uma marca de amor e resiliência na minha alma.
Digo lar de mulheres porque elas eram a maioria na minha vida. Minha amada avó teve 5 filhas e 1 filho e como ela morava conosco, nossa casa vivia cheia da presença, risada e afeto das tias e das dezenas de primas. Meu pai, meu irmão e meu tio eram os benditos frutos junto aos poucos primos. Um universo matriarcal onde os homens são minoria.
Essas mulheres da minha história, descendentes da minha amada Nena, sempre foram autênticas, fortes, determinadas e protetoras. Aliás, superprotetoras e comandavam a vida com rédeas curtas e sorrisos largos.
Não sou diferente disso. E ainda acrescentei valores como independência e autonomia ao rol das qualidades familiares.
Isso posto, eu acreditava, que para ser “completa”, “bastava” ser uma excelente esposa, excelente mãe e uma dona de casa razoável… que não era necessário ser “escrava do lar” nem “piloto de fogão”… Ou seja, não sabia de nada a Dani inocente…
Engraçado como cheguei na casa dos 40 anos com uma certeza de que estava no ápice da minha maturidade e potencial feminino… Casada, dois filhos, emprego estável, conquistas materiais e profissionais. Neste momento, a vida deve ter sacudido a cabeça e sorrido de canto de boca, porque os próximos anos foram de intenso aprendizado e aprimoramento pessoal!
Alguns fatos desencadearam mudanças em mim, que me considerava uma mulher contemporânea e bem resolvida.
Um deles, aconteceu há 6 anos. Na semana da SIPAT na empresa que trabalho, ouvi uma palestra sobre alimentação saudável. Fui, esperando ouvir dicas de boas comidinhas e combinações saudáveis e… não foi nada disso!
A palestrante, sabiamente, falava das “questões emocionais da comida”. Do porquê comida de mãe e vó ser tão mais gostosa do que qualquer outra… Segundo ela, o preparo do alimento,“capta” e transmite amor e promove a formação de memórias afetivas. Ela falou da comfort food.
Comfort food
O conceito comfort food abrange a culinária afetiva, ou seja, pratos que são associados a momentos de amor e aconchego! Receitas familiares, normalmente simples, mas que foram degustadas com afeto e carinho! É o pão caseiro da mãe, a cueca virada da tia, o strudel da oma ou o macarrão da nona!
A comfort food fala de uma experiência que mais parece uma máquina do tempo! Basta sentir aquele aroma novamente que o coração dispare de alegria e muitas vezes de saudades de um passado distante! São aromas que alimentam a alma.
Além disso, a culinária afetiva faz um que resgate das tradições e ritos familiares, sempre associada a boas emoções!
Recordei com ela o amor que sentia em cada comida de Nena. Como era esperado cada aniversário… Fazíamos tudo com ela, minha mãe, minha tia Neuza… Os docinhos, o bolo, os canudinhos… Era uma festa antes da festa, que me deixaram marcas de felicidade.
Sai de lá pensando: qual a memória afetiva que eu estava deixando para os meus filhos? Gelei ao responder a mim mesma: nenhuma!
Eu não cozinho nada Dani! E agora?
Eu também não cozinhava nada! Achava um absurdo eu trabalhar o dia todo e ainda ter que para a cozinha aos finais de semana! De vez em quando eu fazia um bolo ou uma torta, mas tinha que estar altamente inspirada! Foi um choque, eu confesso!
Então, decidi que valia a pena mudar, porque eu queria que meus filhos tivessem a chance de terem estas doces memórias como eu tenho!
Comecei a cozinhar mais e descobri-me apaixonada pelo ofício! Hoje faço tudo o que vocês possam imaginar, para e com meus filhos e sobrinhos!
Não estou escrevendo tudo isso pra você, que não sabe cozinhar, arrancar os cabelos e sair correndo. Apenas compartilho a minha experiência, minhas reflexões e minha caminhada.
Mas, se me permite um palpite: tente! Pelo tanto de ganhos que a experiência oferece, te asseguro que vale a pena!
Como? Você pode começar cozinhando para eles e depois com eles. E nada rebuscado ou complexo: opte pelo trivial! Pode ser fazendo uma simples gelatina, um bolo de caixinha daqueles que a gente compra no mercado ou uma simples receita de bolachas caseiras! E para ajudar, vou deixar no final do texto duas receitinhas de família para começarem! (Afinal, vocês já são um pouco da minha família, certo manas?)
Depois que estiver mais segura, chame sua galerinha para ajudar! E lembre-se, o importante é o processo e não é o que se faz! O que vale é o como se faz: todos JUNTOS!
Nestas experiências culinárias também é possível trabalhar noções de higiene, matemática, química e o principal, na minha opinião: a partilha! Sempre cozinhamos para partilhar com os demais! Uma lição de vida que a gente usa para sempre: compartilhar! <3
Enfim, já escrevi demais, mas antes de concluir que deixar registrada minha reverência a cada mulher forte e sábia que passou na minha vida, ressignificando em mim o que elas tinham de melhor. Uma história de amor e lindas lembranças, sim, perpassada pela culinária!
Além de minha mãe e avó Nena, tenho que falar da tia Carmita que está presente quando faço “aquela” torta de banana, Madrinha Helena que me ensinou minha primeira receita de bolo, a famosa nega maluca, Tia Neuza com seus bolos de pão de ló e com sua risada amada… E mesmo minha avó Avany, que pouco conheci, mas que segundo falam, era “a” cozinheira!
Com doce amor,
Dani
Receita 1
Nega maluca
2 ovos
1 xícara de achocolatado
1 xícara de açúcar
½ xícara de azeite
1 xícara de água fervendo
2 xícaras de trigo
1 colher de sobremesa de fermento em pó
Misturar todos os ingredientes na ordem proposta e assar em forno médio, cerca de 180° graus por cerca de 30 minutos.
Para saber se o bolo está assado, pode-se furar o meio com um palito de dente. Se o mesmo sair “limpo”, o bolo está pronto.
Para cobertura, misture 1 xícara de açúcar, 1 xícara de achocolatado, meio tablete de margarina e duas colheres de sopa de leite e derrame ainda fervendo sobre o bolo.
Receita 2
Bolachinhas
10 colheres de sopa de açúcar
16 colheres de sopa de trigo
1 tablete de margarina
3 ovos
1 colher de sobremesa de fermento em pó
Misture todos os ingredientes e abra a massa em uma banca de mármore ou mesa lisa com auxílio de um rolo. Você pode ir jogando farinha sobre a mesa para evitar que ela grude nas forminhas e na própria mesa! Para cortar as bolachas você pode usar forminhas de massinha ou copos pequenos.
Assar por cerca de 20 minutos em forno médio, cerca de 180º graus, até dourarem!
Se guardadas em potes herméticos, duram cerca de 20 dias!