Eu estou no meio dum momento quase inacreditável: “de favor” na casa de amigos, numa cidadezinha pequena de Portugal, onde não posso sair para lugar nenhum além de mercado, sem ter certeza de quando volto para casa e quase sem trabalho.
Mas não sou a única a estar passando por uma situação dessa, né? Muito pelo contrário… O mundo todo está passando por um momento muito complicado, muito difícil, absolutamente imprevisível!
Há um mês eu estava passeando por Roma! Livremente, sem preocupações eu passeava pela Itália! De manhã, quando na Itália era 9h e no Brasil eram 5h, eu saía dar uma volta. Caminhava por praças maravilhosas, ia à feira, perdia o fôlego com tanta beleza e história. Hoje, apenas um mês depois, a Itália está sofrendo muito. Ela está inteira fechada, perdendo centenas de pessoas por dia e todos esses lugares aonde eu ia diariamente, estão hoje completamente vazios.
Em apenas um mês o mundo mudou. Completamente.
Hoje, agora, nesse exato momento em que estou escrevendo, dia 31 de março de 2020, eu deveria estar chegando em São Paulo, voltando ao Brasil. Teria saído de Madrid, passado por Nova Iorque, passeado um pouquinho por lá, viria para Guarulhos e por fim Curitiba. Hoje era o dia em que eu chegaria à minha casinha. Eu sentaria no meu sofá, regaria minhas plantas, iria ao sacolão, faria minha comida favorita, iria me readaptar ao fuso horário. Amanhã muito provavelmente eu veria meus pais, daria aqueeeeele abraço apertado, contaria um bom tanto de histórias, ouviria as histórias deles, daríamos risada, brigaríamos um pouquinho, ouviríamos música, estaríamos juntos.
Mas o mundo mudou e eu não pude viajar.
Remarquei a passagem de volta para 14 de maio – MAIO – mas ainda não estou comemorando, pois não tenho certeza se voltarei nesse dia. Poxa, se em um mês tudo mudou, quem me garante que em mais 45 dias tudo não vai mudar de novo?
É, tá fácil perder a calma, mais fácil ainda sentir desespero! Estou com medo, estou com frio na barriga, não sei o que vai acontecer.
O que eu sei de fato é que é normal e que, se eu aprender a compreender o que é esse frio e confiar, eu vou sair muito mais forte do lado de lá!
Estava tentando explicar pra mim mesma o que estou sentindo, vamos ver se você concorda:
(aviso: vou dar uma voltinha, parece que estou saindo do assunto, mas continua lendo, que lá na frente tudo se conecta!)
Sabe aquele frio na barriga que dá quando estamos na montanha-russa? Aquele medo e desconforto que uma queda livre dá? Bom, se ele fosse tão ruim assim, não haveria milhares e milhares de parques de diversão pelo mundo repletos de montanhas-russas, concorda? Muita gente, todos os dias, andam na montanha-russa, sentem o medo, o frio na barriga, o leve desconforto da incerteza daquela queda livre, de ficar de ponta cabeça.
As montanhas-russas só existem ainda, pois:
- Amamos o medo e o friozinho na barriga;
- Confiamos no equipamento de segurança.
Então veja (estou falando aqui com aqueles que gostam de montanha-russa): sendo bem, mas bem sincero e realista, não é uma grande besteira e até mesmo um absurdo pensar que você opta e até paga para correr risco de vida?
É e não é.
Corremos esse risco, pois temos a grande crença de que os equipamentos de segurança vão nos segurar. Serão suficientes para fazer com que sintamos a delícia da sensação de queda sem nos deixar cair! Acreditamos nos equipamentos de segurança.
Podemos dizer que temos fé nos equipamentos de segurança…
Bem, será que você já começou a perceber aonde eu estou querendo chegar com essa comparação?
Eu não vou falar de religião. Não vou me apropriar de nenhuma crença, nem dizer o que é o certo, isso cada um vai ter uma resposta única e pessoal, mas o que eu quero dizer é que precisamos acreditar!
Tem quem queira acreditar na religião, tá tudo bem!
Tem quem queira acreditar na ciência, tá tudo bem!
Tem quem queira acreditar em si mesmo e nada mais, tá tudo bem!
A questão é: precisamos acreditar, ter a crença, fé, confiança de que ficaremos bem, independente do final.
Esse é o nosso equipamento de segurança da vida real!
Mas, não sei se você percebeu que o título desse texto não foi ‘fé, crença, confiança’, mas sim ABANDONAR O CONTROLE PODE SER A GRANDE SOLUÇÃO. Pois é, concorda que só tem fé, confiança, crença, quem consegue soltar as rédeas e deixar o Universo, Deus, Sua Força Interior, guiar?
Há momentos em que precisamos aceitar que não temos mais o controle. Que não sabemos como serão as coisas daqui 45 dias. Que não temos certeza de que voltaremos tão cedo para casa. Aceitar que isso, mesmo não tendo nada a ver com o que planejamos, é a verdade e que não há nada que possamos fazer para mudar. E se deixar levar.
Confiando que no fim, tudo vai dar certo.
Abre mão do controle e vive hoje, só hoje, do jeito que estiver sentindo que quer viver. Comendo besteira, vendo seriado, estudando, brincando com o filho, com o cachorro. Vive intensamente esse momento, pois olha que coisa mais doida: ele é único! Ele nunca aconteceu antes e – esperamos – nunca mais acontecerá nessa geração!
Abre mão das ideias que você tinha para o mês de abril, elas muito provavelmente não vão acontecer, e observa quais planos fazem sentido agora!
Eu estou fazendo isso e, só assim, me mantendo sã. Confesso que está sendo um tremendo desafio, mas te juro que a cada dia está ficando mais fácil.
Experimenta: confia, entrega, aceita e agradece!